terça-feira, 29 de setembro de 2009
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
O que somos!
E por todos os lados bocas que não se calam
E não param de falar de si
E por todos os lados gente que não para de correr
E não param para olhar pra si.
E por todos os lados guerras, revoltas, intrigas e inveja,
De um mundo que á muito tempo deixou de existir.
Todos estão simplesmente indo
Comem, bebem ....
Mas são como zumbis.
Ninguém sabe o que anda a fazer....
E poucos ainda se perguntam: O que vim fazer aqui?
O fluxo, segue o fluxo,
Abre porta, fecha janela,
O corpo, o morto,
Tudo dentro dela
A pergunta é sincera,
Mas a resposta essa....
cínica, bandida:
O que vim fazer aqui?
E não param de falar de si
E por todos os lados gente que não para de correr
E não param para olhar pra si.
E por todos os lados guerras, revoltas, intrigas e inveja,
De um mundo que á muito tempo deixou de existir.
Todos estão simplesmente indo
Comem, bebem ....
Mas são como zumbis.
Ninguém sabe o que anda a fazer....
E poucos ainda se perguntam: O que vim fazer aqui?
O fluxo, segue o fluxo,
Abre porta, fecha janela,
O corpo, o morto,
Tudo dentro dela
A pergunta é sincera,
Mas a resposta essa....
cínica, bandida:
O que vim fazer aqui?
domingo, 27 de setembro de 2009
- Perguntas-me o que é que me fizeste, velho Wang-Fô? - recomeçou o Imperador, inclinando o pescoço encarquilhado para o velho que o ouvia. - Vou dizer-to. O meu pai reuniu uma colecção de pinturas tuas no fundo do palácio, e foi nessas imensas salas que eu fui criado, velho Wang-Fô, porque não me deixavam sair, com medo de que ver os infelizes me afligisse o espírito ou agitasse o coração. Tirando um ou outro velho criado que aparecia o menos possível, a ninguém mais era permitido entrar nos meus domínios, não fosse conspurcar-me com a sombra de quem passasse. De noite, quando não conseguia dormir, ficava a olhar para os teus quadros, e, durante dez anos, não houve uma só noite em que eu não os tenha contemplado. De dia, sentado num tapete de que já sabia de cor todos os desenhos, descansando as mãos nos meus joelhos de seda amarela, eu imaginava o mundo - com o país de Han no meio - semelhante à planície côncava e monótona da mão profundamente atravessada pelos Cinco Rios. A toda a sua volta, o mar onde os monstros nascem e, mais longe ainda, as montanhas onde assenta o céu. Tudo isto eu imaginava com a ajuda dos teus quadros. Aos dezasseis anos, reabriarm-me as portas que me separavam do mundo; subi ao terraço do palácio para ver as nuvens, mas elas não se comparavam com as dos teus crepúsculos. Mandei vir uma liteira; sacudido através de estradas atulhadas de lama e de pedras com que eu não contava, percorri as províncias do Império sem encontrar os teus jardins repletos de mulheres parecidas com flores e as tuas florestas cheias de antílopes e de pássaros. Os calhaus da beira-mar fizeram com que eu me enjoasse dos oceanos; a fealdade das aldeias impede-me de ver a beleza dos arrozais, e o riso áspero dos meus soldados dá-me vómitos. Mentiste-me, Wang-Fô, velho aldrabão: o reino de Han não é o mais maravilhoso dos reinos e não sou eu o Imperador. O único império onde vale a pena reinar é aquele onde tu entras, velho Wang, pelo caminho das Mil Curvas e das Dez Mil Cores. Só tu reinas em paz sobre planícies onde a neve não derrete e sobre campos de flores que nunca morrerão. E é por isso, Wang-Fô, que eu encontrei o suplício que te estava reservado, a ti cujas pinturas me fizeram detestar o que possuo, e desejar o que jamais possuirei. E, para te fechar na única prisão de onde não poderás sair, decidi queimar-te os olhos, já que os teus olhos são as duas portas mágicas por onde tu penetras no teu reino. E, já que as tuas mãos são as duas estradas de dez ramificações que vão até ao coração do teu império, também decidi cortar-te as mãos. Percebes tu agora, velho Wang-Fô?
Marguerite Yourcenar
Marguerite Yourcenar
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Deficiente é aquele que não consegue modificar a sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.
Louco é quem não procura ser feliz com o que possui.
Cego é aquele que não vê o seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para os seus míseros problemas e pequenas dores.
Surdo é aquele que não tem tempo de ouvir o desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir os seus tostões no fim do mês.
Mudo é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
Paralítico é quem não consegue andar na direcção daqueles que precisam da sua ajuda.
Diabético é quem não consegue ser doce.
Anão é quem não sabe deixar o amor crescer.
E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois: miseráveis são todos que não conseguem falar com Deus.
Texto da professora Renata Vilella, geralmente atribuído a Mário Quintana
Louco é quem não procura ser feliz com o que possui.
Cego é aquele que não vê o seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para os seus míseros problemas e pequenas dores.
Surdo é aquele que não tem tempo de ouvir o desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir os seus tostões no fim do mês.
Mudo é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
Paralítico é quem não consegue andar na direcção daqueles que precisam da sua ajuda.
Diabético é quem não consegue ser doce.
Anão é quem não sabe deixar o amor crescer.
E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois: miseráveis são todos que não conseguem falar com Deus.
Texto da professora Renata Vilella, geralmente atribuído a Mário Quintana
quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e não ver vista que não sejam as janelas ao redor. E porque não tem vista logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, se esquece do sol, se esquece do ar, esquece da amplidão.
A gente se acostuma a acordar sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder tempo. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E não aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: “hoje não posso ir”. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisa tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que se deseja e necessita. E a lutar para ganhar com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar nas ruas e ver cartazes. A abrir as revistas e ler artigos. A ligar a televisão e assistir comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição, às salas fechadas de ar condicionado e ao cheiro de cigarros. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam à luz natural. Às bactérias de água potável. À contaminação da água do mar. À morte lenta dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter galo de madrugada, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta por perto.
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta lá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua o resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem muito sono atrasado.
A gente se acostuma a não falar na aspereza para preservar a pele. Se acostuma para evitar sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.
Marina Colassanti
terça-feira, 8 de setembro de 2009
No fundo, bem no fundo, é pouca a diferença entre um líder fraco e um actor porno
"Temos de levantar a cabeça."
Carlos Queiroz, após jogo com Dinamarca.
Carlos Queiroz, após jogo com Dinamarca.
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
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